Polícia investiga 15 suspeitos em novo caso de suicídio por cyberbullying
Notícia do Público de 16 de Setembro de 2013.
Rebecca tinha 12 anos e era perseguida por colegas através de mensagens enviadas para o telemóvel.
Entre 2010 e o Verão de 2013, o cyberbullying nos Estados Unidos terá sido responsável por pelo menos 12 suicídios. Na semana passada, Rebecca Ann Sedwick, que durante um ano foi torturada por 15 colegas da escola secundária, subiu a um silo de uma fábrica abandonada e atirou-se lá de cima. “Devias morrer”, “Porque é que ainda estás viva?”, “És horrorosa”, diziam as mensagens que lhe enviaram nas redes sociais.
Tinha 12 anos e antes de sair de casa na manhã do dia 9 de Setembro mudou o nome de um dos seu perfis na Internet para “Rapariga Morta”.
Rebecca Ann Sedwick morava na Florida, em Lakeland. Neste estado existe uma legislação antibullying a que este ano foi acrescentada uma emenda sobrecyberbullying. A emenda torna mais fácil acusar na Justiça os bullies do ciberespaço (o bullying é a palavra que define a violência física ou psicológica praticada por um ou mais indivíduos sobre outro, provocando-lhe grande sofrimento).
Na história de Rebecca, há 15 suspeitas, todas com idade semelhante à da vítima. A polícia ficou-lhes com os computadores e com os telemóveis e os advogados públicos estão à procura de provas que possam levar a algum tipo de acusação.
Mas a lei aprovada tem muitas ambiguidades, por exemplo estabelece que no caso de menores deve ser a escola a encontrar uma solução e um castigo para os infractores. Já foram condenadas pessoas por cyberbullying nos EUA, uma por ter provocado a morte de uma menor. Mas o veredicto de culpado foi anulado no recurso – em 2006, Lori Drew, um adulto, foi condenado no Missouri pela morte de Megan Meier, de 13 anos. O homem, que era vizinho da família da rapariga, começou uma relação virtual com a rapariga fazendo-se passar por um adolescente. Quando acabou com o romance, Megan enforcou-se. No recurso foi concluído que não ficou provado que o suicídio foi consequência directa do logro.
Havendo precedentes pouco favoráveis a condenações, os investigadores da Florida têm de começar por determinar se foram os 12 meses de perseguição que fizeram a rapariga subir ao silo e atirar-se, explicou o xerife de Polk County, Grady Judd, citado pelo Huffington Post.
Ela estava “aterrorizada”, disse o xerife. Em casa de Rebecca foram encontrados o computador, o telemóvel e diários com desabafos – “O que ela escreveu parte-nos o coração.”
No dia em que morreu, esta aluna do 7.º ano deixou o telemóvel em casa. Coisa inédita para quem nunca andava sem ele para poder partilhar mensagens, perguntas e imagens através de sites como o ask.fm ou o Kik and Vox. O ask.fm já foi envolvido em casos de cyberbullying nos EUA e no Reino Unido e prometeu criar um sistema de bloqueio; é acusado de nunca ter agido para conter ou proteger os seus utilizadores. “Quantos comprimidos precisas de tomar para morrer?”, era uma pergunta no telemóvel de Rebecca.
Tricia Norman, a mãe, contou à Associated Press que ao longo do ano tentou ajudar a filha. Fez queixas à escola, retirou-lhe o computador e o telemóvel várias vezes, impediu-a de usar os serviços de certos sites. Nunca percebeu que apagados uns, apareciam outros. A polícia encontrou imagens e mensagens que ela enviou nos últimos meses, quando a mãe acreditava que já não o fazia. “Existe toda uma nova cultura que passa ao lado dos adultos, porque muda de dia para dia”, explicou a The New York Times Denise Marzullo, do departamento de saúde mental do Nordeste da Florida. Quando os pais descobrem o Instagram, disse Marzullo, já isso é passado, os filhos estão muitos passos à frente.
A mãe também alertou a direcção da escola da filha para o que se estava a passar – não houve mudanças e transferiu-a para outra escola. “Ela andava risonha e bem-disposta”, disse a mãe, que acreditou que o pesadelo acabara com a mudança de ambiente escolar. Já Rebecca estava na outra escola quando estas mensagens caíram no seu telefone: “Importas-te de morrer, por favor”, “Porque é que ainda estás viva?”.
A escola Crystal Lake descarta responsabilidades. Fez saber que recebeu apenas uma queixa, em Dezembro – quando Rebecca foi internada porque começara a cortar-se com lâminas -, e que a direcção foi obrigada a suspender a rapariga por ela tentar bater numa colega. As mensagens, o bullying, disse já a polícia, foram enviadas sobretudo em horário escolar, e os investigadores estão também a tentar encontrar legislação que sustente um processo contra a escola.